Paixão pelas árvores
Há alguns anos, respondi ao meu neto sobre a sua curiosidade em relação à minha paixão pelas árvores. Na época, bem criança, acho que ele entendeu bem pouco tudo o que eu disse. Por isso, quero repetir agora para que seu coração adolescente guarde os meus sentimentos e possa um dia relatar também aos seus filhos e talvez, venham perpetuar a mesma paixão.
As árvores me encantam. Todas as suas partes têm um esplendor próprio, depende de como nós as olhamos, em que contexto estão, em que espaço e solo cresceram. Elas são o símbolo da vida, sempre em ascensão em direção ao alto, atraídas pela luz do céu. Mantêm as raízes na terra, perdem as suas folhas e se regeneram incontáveis vezes, morrendo e renascendo.
Consigo fazer uma relação delas com a minha vida. Algumas até parecem fazer parte da árvore genealógica e do crescimento da minha família.
A Oliveira, centenária, renasce a cada inverno e produz frutos por um período muito longo de sua existência, seu tronco retorcido e sua estatura baixa sustenta com força a sua espécie, não envergando diante das intempéries da Natureza. Nem o frio ou a neve conseguem cortar o calor da sua vida, mantêm o vigor , o brilho das folhas e o sabor de seus frutos. Segue o seu ciclo, mantendo-se ativa entre os seus descendentes.
O Loureiro, com suas folhas perenes, simples e ásperas, têm um odor característico, que perfumam o ar e dão sabor aos alimentos. Sua madeira é cerne e nobre, porém sem ostentação da sua grandeza. Se adapta a qualquer clima, aguenta as poluições, o forte calor e as baixas temperaturas. Quanto mais podado, mais galhos e folhas nascem, servindo para a cura de diversos males.
A Mangueira com um tempo longo de vida produtiva, é abundante na produção de seus frutos saborosos e de várias espécies, alimenta as aves, os animais e os seres humanos. Suas sementes não têm muita exigência de solo e aos poucos outras e outras árvores vão se agrupando ao redor da árvore mãe. Seu caule tem casca rugosa e resistente. Sua folhagem é sempre verde, copa espessa, abrigando os animais do calor do sol e do sereno.
A Copaíba, cuja sombra frondosa agasalha do calor e do frio a quem se recolhe debaixo da sua galhada. Seu óleo natural, é analgésico para as dores, cicatrizam as feridas abertas, amenizam males, perfumam e amaciam os corpos femininos. Às vezes, encontra-se soberba e única num espaço que parece ser somente dela.
O Ipê, árvore típica do cerrado que nos ensina a perseverança e a superação em busca do alimento que a manterá viva. Suas raízes são profundas, trabalham cortando o solo seco e árido em busca da água. Gosta do calor e do sol pleno, seu tronco tortuoso nos lembra a fortaleza dos sertanejos, que vergam mas não tombam diante das dificuldades. No inverno, perde as folhas para apresentar suas flores, das mais variadas cores. Deixa saudades a cada florada.
Poderia citar tantas outras espécies. Seria capaz de descrever um pouco de cada uma. E se não as conheço, busco rapidamente pesquisar e me familiarizar para criar laços de afeto. colho sementes, faço mudas, compro outras, planto algumas, compartilho com outros apaixonados como eu. Elas me representam.
Ao lado delas, sou seduzida e num abraço fico um tempo agarrada ao seu tronco, observando sua textura, as nuances da cor, o cheiro característico de suas folhas e flores. converso com elas, falo-lhes da sua beleza, da sua importância e do que significam para mim. Falo delas. Torno-me sua namorada.
Talvez meu neto não se dê conta de entender o que passa na cabeça desta avó. Uma paixão maluca que poucos entenderão!
Estela Maria de Oliveira
Enviado por Estela Maria de Oliveira em 26/10/2023