Deus fez arte
Deus criou o Homem e deu a ele dons a serem descobertos e desenvolvidos. Para isso, capacitou-os com inteligência. Quis Ele que a sua criatura fosse sua imagem e semelhança. Para a sua criatura criou um habitat com as maiores riquezas minerais, vegetais e animais. No alto, um universo com os planetas, com as estrelas e um infinito a ser descoberto. Um firmamento entre o céu e a terra para ser explorado.
Tocou os olhos do Homem e mostrou-lhe todas as belezas do paraíso criado. Fez ele perceber as cores do azul do céu, os diferentes tons de verde das matas, o brilho das águas, o colorido das flores, as nuances das penas das aves e toda a diversidade natural.
Tocou-lhe os ouvidos para que ficassem sensíveis a qualquer barulho. Para que o sibilar de um grilo tivesse a mesma intensidade que o estrondo de um trovão, para que o grito de uma criança fosse sentido com a mesma sonoridade do canto de um pássaro. Pediu-lhe atenção, pois o farfalhar das asas de uma borboleta podem ser ouvidas se assim nossos ouvidos estiverem treinados. Lembrou-lhe do silêncio.
Ainda quis mais perfeição e tocou-lhe as mãos e os lábios para que percebessem a textura dos objetos, o calor dos lábios beijados, o frio dos corpos descobertos. Abençoou as mãos e recomendou que as mantivessem puras, longe das agressões ou da usurpação das coisas alheias.
E para completar a sua criação, Deus tocou no coração do Homem e quis que ele fosse bom! Que fosse plácido, que enxergasse nos demais humanos as atitudes virtuosas. E que ele fosse capaz de perdoar! Acreditou na sua criação e assim entregou-lhe o mundo.
Com todos esses dons o Homem desenvolveu a arte, que confirma todas as maravilhas postas no universo, consagradas por Deus. Alguns exemplos de semelhança com o Criador, é a existência dos pintores, dos músicos, das bordadeiras, dos poetas e tantos outros que colocam as suas mãos e o seu coração a serviço do Criador para confirmar a existência de tamanha grandeza divina.
Os pintores, diante de uma tela em branco, deslizam as mãos entre as tintas, escolhem as cores e vão retratando um mundo que estava preso no seu interior. Olham, corrigem riscos, sobrepõem tons. Admiram a sua criação e assinam. O prazer maior é expô-la diante dos olhos de críticos e dos amantes da sua arte.
Os músicos, compondo, cantando ou tirando sons de instrumentos, usam as notas musicais, seus tons e frequência para dar significado às melodias. Uma música é capaz de despertar as mais variadas emoções, de ultrapassar os limites do coração e curar males físicos e espirituais. Compor uma música é gestar um filho para a eternidade. Uma boa música não tem idade.
As bordadeiras escolhem minuciosamente o tecido que irá receber a carícia de suas mãos no entrelaçar das linhas e no pesponto dos seus desenhos que vão se completando a cada ponto costurado. Ao término, o bordado é lavado, engomado e delicadamente dobrado, deixando em destaque a obra que irá encantar, principalmente, os olhares mais exigentes.
E o poeta junta tudo isso em palavras, com sentido, sem sentido, mas que vão rimando no coração da gente, fazendo-nos ler nas entrelinhas mensagens que mexem com a nossa sensibilidade, permitindo-nos fazer leituras que estavam obscuras na nossa mente. O poeta é um guardião que abre as portas do nosso céu ou do nosso manicômio interno.
E eu, uma simples criatura mortal, provida de tudo que me permite aproveitar as riquezas universais, sei reconhecer e admirar esses talentos dados por Deus. Sem grandes dons, sigo arteira, brincando com as palavras para atestar que ainda sou um rascunho da criação.
Estela Maria de Oliveira
Enviado por Estela Maria de Oliveira em 27/10/2023