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O paiol e nós, parceiros de muitas memórias.
Domingo, dia do Senhor, dia de saudades e crônica nova💞 com Amanda Neto Lucca Marcio Barros
O paiol e nós, parceiros de muitas memórias.
De longe, o velho paiol passava despercebido pelos olhares acostumados com a mesma paisagem de anos. Olhares acostumados a ver as montanhas, os rios, as flores e os animais cotidianamente não enxergam a beleza de uma velha construção, sucumbindo às intempéries da natureza. A beleza incorporada ao dia a dia dos roceiros e moradores do campo são outras.
Lá na encosta, ao final da trilha, estava apenas um paiol resistindo ao tempo, cheio de quinquilharias antigas e sem utilidade. Sobras de uma família, que multiplicou seus descendentes e dividiu a herança, espalhando-os em diversas propriedades.
O velho paiol ficou sozinho depois da partida de seus moradores. A casa foi demolida e a porteira trancada. Restou a mata, o rio, a pastagem e o paiol como testemunha das mudanças ao seu redor. Desbotado pela chuva, com as madeiras consumidas pelo tempo, resistiu pelo telhado que ficou fiel à sua função.
E foi ele que chamou a atenção de olhares curiosos que se aventuravam em busca de um pedacinho de terra, de um recanto para acomodar as angústias em tempo de pandemia. O paiol e a mata. O paiol e o verde da pastagem. O paiol e o declive das terras.
E os caminhantes de final de tarde, fizeram a mesma trilha diversas vezes, até que a porteira batesse atrás de si. Porteira fechada. Transferência de posse. Muitos foram os passos percorrendo cada pedacinho desse chão. Olhares penetrando as montanhas, descortinando o cocoruto da montanha do Pedrão. O coqueiro ficou, simbolicamente, demarcando as plantas de novas construções e respeitando a majestade do paiol.
O paiol de hoje não é o mesmo de outrora; aos poucos foi sendo modelado por uma nova veste. Os trajes surrados deram lugar a uma vestimenta cheia de brilhos e acessórios novos. Mas, a sua essência, os oitenta anos de vida, eternizam as memórias de seus guardiães. Não há intenção de macular aquilo que foi guardado por Sá Estácia, sua presença ainda se faz nos tijolos que resistem ao tempo. Passado e presente, continuam iluminados e iluminando os novos residentes. Sob o foco do fotógrafo, as memórias, vistas por vários ângulos, se revestem de luz.
Hoje, o paiol não se sente mais só, os gritos das crianças e as gargalhadas dos adultos preenchem a sua vida e lhe fazem companhia. O paiol ganhou uma nova família e um jardim florido para alegrar seu novo tempo no Rancho Paçoca de Pilão.
Estela Maria de Oliveira
24/11/23
Estela Maria de Oliveira
Enviado por Estela Maria de Oliveira em 29/12/2023