Estela M Oliveira
Sou o lavrador, a semente e o adubo, sou a flor e o fruto da Cidade Sinfonia!
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Textos
Orgasmo do pão torrado
O  orgasmo do pão torrado


        Eram duas horas da madrugada quando fui gestado. Um rapagão forte, braços musculosos e  mãos macias escolheu a forma em que eu seria acarinhado.
     Num tempo de desenvolvimento fiquei à espera do meu nascimento. Tinha todos os traços esperados para a minha genética: fofo, macio, cheiroso e de bom sabor. Tinha que ser igual aos meus irmãos que também disputavam comigo a gestação saudável.  Para  nascer fomos colocados no berço quentinho que nos transformou em bebês disputadíssimos.
      Em pouco tempo fomos para uma vitrine, onde pessoas de todos os tipos, gênero e idade foram fazendo suas escolhas.
     Vi então a bela garota, olhos ávidos e boca vermelha pelo batom passado ao despertar pela manhã. Percorreu com o olhar toda a minha família e foi apontando alguns que queria levar para casa. Eu estava entre seus preferidos.
     Sai daquela maternidade corriqueiro esperando pela transa que deveria acontecer a poucos minutos. Hum, aquela boca vermelha e lábios úmidos. Eu teria o meu momento de prazer e de volúpia, entre as mãos e aquela boca que me seduziram.
     Fomos depositados numa cama macia, lençol branco e bordado com rosas minúsculas e singelas. Era  aconchegante o nosso ninho de amor.  Senti o cheiro do café coado. Era a fragrância preferida para o momento da alimentação.
      Mãos ávidas foram escolhendo meus irmãos. Fiquei observando e esperando a minha vez de experimentar tamanho prazer. Mas, fui deixado só, excluído.
      Fiquei alguns dias relegado à própria sorte. O abandono foi me deixando murcho, sem vida. Da cela em que fui depositado, não conseguia ver o que se passava à minha volta. O silêncio era meu companheiro. De olhos fechados fui acostumando a pensar no meu fim.
     Um dia, percebi que a luz solar adentrou pelas paredes que me separavam do mundo daquela jovem, pela qual me derramei de amor.
      Ela tocou em meu corpo, senti tremer e arrepiar a minha pele. Era só eu e ela. Me acariciou por uns momentos e foi dividindo meu corpo em pedaços, cobrindo-me com um creme perfumado. Fiquei à espera do próximo carinho.
      Quis ela que eu passasse por algumas transformações, me colocando para ser aquecido, como os seus lábios e boca umedecida esperavam.
     Quando eu estava pronto para seu deleite, me olhou com olhos sedutores. Mordeu os lábios. A fragrância do café me deixou excitado, muito além da vez que fiquei à espera. Era a minha hora, senti o toque no meu corpo moreno. Estremeci.
      A boca molhada me beijou. Vi o prazer dela me degustando. Ela não parou até que seu apetite por mim  foi contido. Junto dela fui chegando ao prazer final. Eu e ela,  numa sintonia de corpos saciados. Foi lindo e único; valeu a pena a espera. Morrer de amor é o fim desejado para poucos, mas eu morri  assim como pão torrado ♥️💋


Estela Maria de Oliveira
29/07/2014
Estela Maria de Oliveira
Enviado por Estela Maria de Oliveira em 29/07/2024
Alterado em 29/07/2024
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