A vida na zona rural preenche totalmente as minhas necessidades  do encontro com o meu interior. Há uma necessidade em acordar, assim que os primeiros raios de sol despontam no cocoruto do pedrão. Deus me apressa!
      É preciso abastecer-me de um café passado na hora, acompanhado de leite e ovos mexidos. Reforço o estômago, pois não quero ter hora pra voltar. O mundão lá fora me espera.
     Visto-me a caráter: calça jeans, camiseta leve, perneiras e chapéu de palha. Ah, e a botina não pode ser esquecida. Sinto-me pertencendo a este lugar! Saio batendo firme os pés no chão, pedacinho de terra abençoado, adquirido em parceria com meu irmão.
     Os animais fazem algazarra ao perceber a minha presença fora de casa. Os gatos miam e os cães latem, trançando  em meio às minhas pernas; os cavalos levantam as orelhas e marcham em direção ao curral. Sabem que a primeira refeição será servida. Gosto de estar assim, misturado com eles, numa relação de fidelidade e amor gratuito.  
   Acaricio os animais que se chegam a mim. Os cavalos aprenderam a encostar o pescoço à minha cabeça. Fico um tempo neste namoro com a Zuma e com o Tyrone, os dois que primeiro chegaram no Rancho.
     Escolho as traias para encilhar a égua, minha preferida pela sua marcha de centro, escolhida por ter a raça  Mangalarga  e pela sua mansidão. Saímos, como se fosse combinado, deixo as rédeas para a escolha voluntária do animal pelo caminho. Ela me entende, então, Zuma segue em direção ao topo da serra, estrada tantas vezes percorrida por nós.
    Salto e escolhi respirar fundo diante da majestade da paisagem. Naquele instante sagrado, sinto que eu, Zuma e o infinito estamos interligados pelo Criador. Enxergo o horizonte em 360 graus; escuto o barulho do silêncio.
     A certeza que Deus que  existe está registrada na imensidão das montanhas, no azul do céu e na luz e calor do Sol abençoando toda a Natureza criada.  
    Me perco no tempo, fico ali imerso nos meus pensamentos. Minha vida toda passa como flashes à  minha frente.
     Teria tido  uma infância sem questionamentos,  se não fosse a separação dos pais e a mudança da cidade do interior para uma cidade grande.  A adolescência foi mais conturbada. Muitos atropelos, dificuldades, quedas e o apoio familiar me sustentando. Tudo para ser lembrado com gratidão para viver o presente da forma que busquei viver com a família que amorosamente formei.  
     Hora de agradecer. Quantos gostariam de ter o privilégio deste momento, o encontro com Deus na sua amplitude. Sou feliz, com as coisas mais singelas e na simplicidade do campo. Aqui, pisando terras mineiras, eu, Deus e seu infinito, representado por Minas Gerais.  

Estela Maria de Oliveira
28/01/2025